Estivemos à conversa com a Cristina Mendonça do atelier Embaixada.
É jurada na primeira edição dos Prémios Nacionais de Arquitetura FORMA nas categorias de C1 - Habitação Unifamiliar e C5 - Jovens Emergentes.
Numa pequena conversa deu-nos um pouco da sua visão sobre o estado da arquitetura atual em Portugual, os prémios, a profissão entre outros temas.
IF – De uma forma geral o que achas do panorama atual da arquitetura em Portugal?
CM - Ultimamente, na EMBAIXADA, temos refletido bastante sobre o que é ser arquiteto, qual é o nosso papel no processo de conceção, construção e utilização de qualquer tipo de edificação. Apesar de não ter uma leitura clara e inalterável sobre o tema, penso que está diretamente ligado à realidade do contexto socio económico em Portugal. Atravessamos um momento de muitas oportunidades, onde se pode experimentar e se está a concretizar muito, mas as condições de trabalho não são as melhores. A falta de tempo e honorários pouco justos são ainda uma realidade e não contribuem para que a qualidade do trabalho seja melhor, antes pelo contrário.
O resultado final de um processo de arquitetura (do projeto à obra) tem muitos intervenientes e todos deveriam contribuir para que se alcance o melhor. Salvo raras exceções, sinto que estamos a produzir muito, mas a qualidade do que se alcança pesa, na maioria das vezes, num esforço acrescido das equipas de projeto.
IF – No que diz respeito à valorização da prática profissional do arquiteto, o que achas que poderia ser feito para melhorar?
CM - Penso que a iniciativa pública deveria ser exemplar no que toca à valorização da profissão do arquiteto e, salvo raras exceções, não o é. O nosso Código dos Contratos Públicos, CCP, é bem um exemplo do que falo. E vejam a proposta do governo de alteração da contração pública que está agora a ser discutida e que tem sido amplamente contestada pela OA (e bem). A legislação reflete a mentalidade da sociedade. O arquiteto também deverá ter um papel ativo nesta questão e destaco o tema dos honorários como primordial para que nos respeitem enquanto profissionais. Há tempos, em conversa com outro arquiteto sobre este assunto, ele questionava porque haveriam as pessoas de preferir contratar o arquiteto com honorários mais baixos? Mas se tiverem de ser operadas não irão procurar o médico mais barato! O arquiteto é o técnico responsável por uma construção que permanecerá e implicará na vida de inúmeros cidadãos, as suas capacidades deveriam ser a maior condicionante de escolha.
IF – Os prémios FORMA vêm colmatar uma lacuna que havia em Portugal em relação ao reconhecimento do trabalho dos arquitetos no território nacional.
O que achas desta iniciativa?
CM - Acho brilhante. Todas as iniciativas de promoção e discussão de arquitetura são sempre bem-vindas. Em qualquer que seja o âmbito, contribuem para a sensibilização do cidadão comum, no que respeita a importância do papel do arquiteto.
IF – És jurada em duas categorias dos prémios FORMA, habitação unifamiliar e jovens emergentes. Podes falar um pouco de cada uma delas?
CM - São duas categorias de alguma maneira relacionadas uma vez que jovens arquitetos muitas vezes começam por fazer a casa para alguém da família ou amigo.
Jovens emergentes, em arquitetura jovem, abrange um largo expecto de idades, é uma categoria onde espero encontrar arquitetos que começam agora a dar prova da qualidade do seu trabalho. É sempre uma categoria de grande expectativa.
A habitação unifamiliar, apesar de ser um programa pequeno, é um programa complexo de gerir uma vez que lida com sonhos e expectativas do dono de obra. É um programa emocionalmente exigente. Li, há tempos, numa entrevista do Siza, qualquer coisa como, só se é arquiteto depois de se fazer uma casa. Ideia que partilho.
IF – Um dos grandes temas da atualidade, no meio dos arquitetos, tem a ver com a educação para a arquitetura. Que medidas achas importante tomar para melhorar essa educação na comunidade civil?
CM - Será sempre um processo longo e com várias frentes. Penso sempre como poderemos nós, enquanto atelier, contribuir e passará por tentar comunicar de maneira mais abrangente e não só entre e para pares. Temos por exemplo a iniciativa do Open house, que é uma iniciativa organizada a pensar no cidadão comum. Nós fomos convidados para ser os curadores da próxima edição, começámos agora a refletir com maior profundidade sobre o tema e achamos que é um contributo da maior pertinência.
IF – Em que medida é que achas que uma sociedade educada para as questões da arquitetura, desde a escala do edifício à escala da cidade, pode melhorar a relação das mesmas com os arquitetos e a valorização do seu trabalho?
CM - Como dizia há pouco, o cidadão comum não tem noção da importância e do impacto real da ação do arquiteto. Na escolha de um médico procura o melhor e desconfia do que apresente honorários mais baratos, na escolha do arquiteto, na maioria dos casos, a escolha recai sem hesitação no mais barato. Aproximar o cidadão comum da arquitetura contribuirá sem dúvida para um melhor entendimento da importância da profissão.
IF – Num período que se fala tanto no clima e nas medidas de desenvolvimento sustentado definidas pela ONU no seu ponto 11, na tua opinião, qual o papel da arquitetura e responsabilidade do arquiteto nesta área?
CM - A arquitetura sustentável, no meu ponto de vista não se centra na capacidade tecnológica avançada dos edifícios. Existem inúmeras medidas acessíveis que podem ser implementadas, quer à escala da cidade quer à escala do edifício.
Infelizmente, apesar de nos ser dada toda a responsabilidade, o papel do arquiteto está muito condicionado por pré-conceitos de for legal e não só, a folha nunca está em branco quando começamos um processo.
Apesar de tudo, acredito que cada um tem o seu papel e todos podemos contribuir para o ponto 11 definido pela ONU.
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